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Série: Catequese

A Sagrada Escritura e a leitura orante

Deus para se revelar ao gênero humano utilizou-se de palavras humanas, da mesma maneira como o Verbo encarnado assumiu a natureza humana e se fez igual a nós em tudo exceto no pecado (Fp 2,6-11); é por isso que afirma o Catecismo da Igreja “Na Sagrada Escritura, a Igreja encontra incessantemente seu alimento e sua força”1, e reconhece que ali esta contido a palavra de Deus que constantemente fala ao seu povo, e não meras palavras humanas, desta forma, a Igreja tem como sagrados e canônicos os textos do Antigo assim como os do Novo Testamento, tendo como autor o próprio Deus que sobre a inspiração do Espirito Santo capacitou aqueles outrora os escreveram.

Assim, sendo palavra de Deus a Igreja no Concílio Vaticano II indica três critérios para a Interpretação deste alimento salutar dado para nós e confiado a Igreja:

1. Ter em conta a unidade e o conteúdo de toda a Sagrada Escritura pois tem como único centro a pessoa do próprio Cristo, Santo Agostinho já dizia: “O Novo Testamento está escondido no Antigo, ao passo que o Antigo é desvendado no Novo”.

2. A ler dentro da Tradição Viva da Igreja inteira, pois: “A Escritura está escrita mais no coração da Igreja do que nos instrumentos matériais”2.

3. Estar atento as analogias da fé3.

Ademais é de suma importância termos em conta que o Cristianismo não é uma “religião do Livro”, como afirma o próprio Catecismo, mais sim, que somos a religião da “Palavra de Deus”, não de palavras mudas, mais sim do Verbo encarnado e Vivo e que continua a atuar na sua Igreja mediante a ação do Espirito Paráclito. Com tudo isso, podemos ver ali contidos nestes Sagrados Livros dois sentidos: o literal e o espiritual. Do primeiro se entende o seu significado descoberto pela exegese bíblica que segue a correta interpretação. Do segundo, tendo em vista os acontecimentos e realidades narrados que podem ser sinais, sendo dividido em três sentidos como continua o Catecismo:

1. O sentido alegórico. Podemos adquirir uma compreensão mais profunda dos acontecimentos, reconhecendo o seu significado em Cristo: por exemplo, a travessia do Mar Vermelho é um sinal da vitória de Cristo e, assim, do Baptismo.

2. O sentido moral. Os acontecimentos referidos na Escritura podem conduzir-nos a um comportamento justo. Foram escritos «para nossa instrução» (1 Cor 10, 11).

3. O sentido anagógico. Podemos ver realidades e acontecimentos no seu significado eterno, o qual nos conduz (em grego: «anagoge») em direcção à nossa Pátria. Assim, a Igreja terrestre é sinal da Jerusalém celeste.4

Tendo em base estes dois sentidos podemos realizar uma leitura orante da Sagrada Escritura de modo que o próprio Senhor nos venha a falar e comunicar sua vontade, das várias maneiras que podemos vir a fazer uma “Lectio Divina”, a Igreja coloca um modo simples baseado nos padres do deserto com quatro perguntas que nos leva a escutar a vós de Deus. Primeiro: Após invocar o Espirito Santo e fazer a leitura do Texto escolhido se perguntar “o que o texto diz em si?”; depois deste silencio interior procurando ver os detalhes do texto é o momento de perguntar “o que o texto diz para mim hoje?”, nesta minha realidade, neste meu problema; aqui chegamos no diálogo com Deus que é o terceiro ponto deste roteiro e devemos nos perguntar: “o que o texto me faz dizer a Deus?”, é hora de assumir um compromisso diante de Deus! Por último, devemos “olhar a vida com os olhos de Deus” e ver qual o novo olhar que soprou em mim, depois desta leitura orante? Que desafios devo enfrentar para me configurar cada vez mais com Cristo? Desta forma rezando com a Palavra ouviremos a vontade e o compromisso que Cristo nos fala e pede que assumamos em nossas vidas.



Notas:

1- Catecismo da Igreja Católica parágrafo 104.

2- Cf. Santo Hilário de Poitiers, Liber ad Constantium Imperatorem.

3- “Por “analogia da fé”, entende-se a coesão das verdades da fé entre si e no projeto total da Revelação” (Cat. 114).

4-Catecismo da Igreja católica parágrafo 117.


Douglas Dalla Nora- Membro de aliança da Comunidade Legati Christi.

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