Sobre a revelação divina
O homem mediante a razão natural, pode, sem duvida alguma chegar ao conhecimento de Deus criador, partindo também das coisas criadas. Todavia, Deus nos deixou outro caminho para chegarmos a conhece-lo, ama-lo, servi-lo e um dia retornarmos a Ele, que é através da sua revelação divina, por onde o próprio Senhor vem até nosso encontro e nos mostra seu desígnio de amor. Por meio da ação do Verbo divino feito carne nós temos aceso ao Pai e nos tornamos participantes da natureza divina, isto por livre vontade divina, visto que por nós mesmos seria impossível tal conhecimento somente por meio de nossas forças.
O Catecismo da Igreja Católica afirma no parágrafo 53: “Deus comunica-Se gradualmente ao homem e prepara-o, por etapas, para receber a Revelação sobrenatural que faz de Si próprio e que vai culminar na Pessoa e missão do Verbo encarnado, Jesus Cristo.” Assim, percorrendo toda as etapas da revelação desde a sua origem até os tempos messiânicos vemos um Deus que conduz seu povo e o prepara para acolher seu próprio Filho, “E quando, por desobediência, perderam vossa amizade, não o abandonastes ao poder da morte [...] Repetidas vezes fizestes aliança com os homens”1; desta forma, ao percorremos todo o Antigo Testamento encontraremos o relato de um Deus que ama seu povo e que apesar de tantas vezes terem fechado seus ouvidos a suas palavras e mandamentos Ele não os deixou, mas os conduziu por meio dos profetas e foi fiel a sua aliança.
Chegando os nossos dias falou-nos por meio de seu Filho, assim como narra São Paulo na carta aos Hebreus, desta forma o Cristo que é a palavra definitiva do Pai nos falou tudo e já não devemos esperar outra palavra senão esta que nos foi dita pela boca do Próprio Jesus Cristo e transmitida a nós pela sucessão apostólica. Ao analisarmos com mais detalhes o episódio dos discípulos de Emaús vemos como o Cristo vivo prega com autoridade aos dois homens que já haviam perdido suas esperanças no Salvador após o fato da cruz, mesmo que tivessem vivido e aprendido com o mestre, assim nos diz o evangelista: “E começando por Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava dito em todas as Escrituras"2, vemos aqui o Senhor que percorrendo a História da Salvação fala aos seus, e ainda hoje nos quer falar, basta que estejamos abertos a sua palavra e vontade.
Através da pregação apostólica a revelação chegou até nós por duas maneiras: oralmente e por escrito; a primeira se refere as pregações orais dos Apóstolos através de seus exemplos e ações, recebidas do próprio Cristo e por meio da ação viva do Espirito Santo; a segunda se refere aos escritos dos Apóstolos e dos varões apostólicos (São Marcos e São Lucas), que sob a inspiração do Espirito Santo escreverão a mensagem da salvação. E “para que o Evangelho fosse perenemente conservado íntegro e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram os bispos como seus sucessores, "entregando-lhes o seu próprio ofício de Magistério"3. Por isso, a Igreja com sua autoridade é capaz de interpretar corretamente a revelação divina, através de seu Magistério e Tradição contínuos desde seus primórdios e sobre a inspiração do Espirito Santo. Enfim, com Santo Agostinho somos convidados a dizer: “Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja Católica”.
Em síntese a revelação divina é este constante olhar de Deus ao homem, é este operar do criador, sem ferir seu livre-arbítrio, na obra sua criada que confirma e chega a perfeição na pessoa de Cristo e por onde podemos chamar a Deus de Pai nosso.
Notas:
1 Oração eucarística IV: Missal Romano, editio typica. Typis Polyglottis Vaticanis. 1970 p. 467. [Gráfica de Coimbra 1992, p. 538].
3 II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 7: AAS 58 (1966) 820.
Douglas Dalla Nora membro de aliança da comunidade Legati Christi.
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